Mãe – que ser é esse?

Ser mais esquisito esse, o tal de MÃE! É forte, sensível, corajoso, persistente, insistente, dedicado… para os adolescentes, é sempre fora de moda. Para algumas crianças, a mãe é sempre superprotetora e isso é totalmente dispensável, pois é claro que “sei muito bem como cuidar de mim mesmo”. Para os bebês é alimento, é fralda sequinha… em tempos, idos, já foi “só” dona de casa: fazia o café, o almoço, o lanche, o jantar, lavava e passava a roupa, arrumava a casa e a cozinha, cuidava das plantas, arrumava as camas, entregava a toalha e a roupa arrumada na hora do banho, ajudava na hora da tarefa, do estudo para a prova, passava as noites sem dormir vigiando a febre e a tosse, costurava , levava à pracinha, lia uma história na hora de dormir, chamava na casa da vizinha, penteava os cabelos e escovava os dentes (“pois esses meninos nunca fazem isso direito…”), fazia o bolo preferido, etc, etc, etc. Hoje, ainda faz isso tudo – ou quase tudo – e ainda trabalha fora, leva e busca na escola, no balé, na natação, no futebol, nas festinhas, na boate…  A tal da mãe é um bicho muito doido. Sempre ouvimos dizer que mãe é tudo igual, só muda de endereço… Realmente, somos parecidas, o que nos consola por nos sentirmos acompanhadas em nossos medos, dramas e curiosidades. Compartilhamos muitas emoções relacionadas à maternidade, mas temos uma ótica particular para vivenciar o papel de mãe. Até podemos concordar que mãe é tudo igual, mas o endereço faz muita diferença.

Na cultura africana, a maternidade é a mais alta expressão da condição feminina, ocupa um lugar de honra e determina a identidade da mulher, sendo os principais laços de parentesco baseados nas relações estabelecidas pelos nascimentos derivados da linha materna. Chamadas de mães poderosas, consideradas as doadoras de vida, num contexto em que o comportamento individual é avaliado em razão do bem que se faz sua sociedade, essas mães são consideradas um modelo de coragem, resistência, inteligência e responsabilidade, dedicadas a assegurar a sobrevivência dos seus, inclusive em circunstâncias extremas. Desempenham um papel essencial na importante tarefa de tentar humanizar tanto os seus descendentes diretos como o mundo que as rodeia. O nome mais frequente em ibo para a mãe é Nneka, que significa «mãe é suprema».

Na Itália, a maternidade também ocupa lugar honroso e de destaque na vida da mulher, sendo para ela um motivo de grande orgulho e sua obrigação “chocar” os filhos, ficar com eles embaixo de suas asas o tempo todo, até quando já são maduros e têm seus próprios filhos. Mais que qualquer outra mãe, a italiana tem uma imensa preocupação com alimentação. É muito amorosa, protetora e se ocupa quase integralmente dos filhos.

Na China, comumente, encontramos a mãe tigre, aquela que proíbe televisão e videogame, impõe aulas de música – de preferencia de violino e piano -, mantém uma forte pressão em cima dos filhos, regras rígidas e a crítica constante ao desempenho deles. Não elogia o filho em público e, quando julga o elogio pertinente, a mãe tigre enaltece o esforço e o empenho do filho, nunca seu talento ou dom, pois acredita que só o esforço e o empenho levam ao progresso. Não é protetora, deixa que o filho enfrente as aflições e desconfortos cotidianos, pois considera que só assim ele aprenderá a enfrentar as dificuldades da vida adulta.

Falando da mãe francesa, destacamos a descontração e a liberdade que dá aos filhos permitindo que sejam mais livres para brincar, não exercendo pressão sobre eles nem criando expectativas exageradas em relação aos filhos. Cuidam bem de sua alimentação e são contra “junk food”.

Na Inglaterra, encontramos a mãe silenciosa, aquela que passa a maior parte do tempo sem falar muito. Têm por hábito não repetir as ordens e para ela os filhos não tem um status especial na família.

Já a mãe americana é neurótica, tem medo de tudo.  Quer vigiar todos os passos do bebê e é mais liberada na alimentação.

E nós, mães brasileiras, como somos? Como nosso endereço é outro, temos nosso próprio olhar, nossa própria identidade. Somos de vários tipos: algumas de nós são do tipo mãe insegura, a que costuma ouvir várias opiniões para decidir o que é melhor para seus filhos.

Existem aquelas que gostam de ser a mãe amiga, que coloca limites mais elásticos, cuja relação com os filhos tende a ser de igual para igual, sem estabelecer uma hierarquia tão rígida. Há também a mãe culpada, aquela que, ainda que se faça bastante presente no dia a dia dos filhos, possui um enorme sentimento de culpa pela dura rotina diária. Tem um sentimento de dívida eterna com os filhos e sempre procura uma forma de “compensá-los”, geralmente enchendo-os de presentes. Podemos encontrar, ainda, a mãe perfeita, aquela que está sempre se cobrando para ser a melhor em tudo, busca fazer tudo de forma impecável, gerando, muitas vezes, um enorme estresse para atingir esse objetivo. Jamais desiste de buscar a perfeição na maternidade.

E a Mãe de primeira viagem? Insegura e um pouco desajeitada, às vezes se descontrola. Procura ostentar o controle da situação, mas se algo sai da rotina, ela se desespera e normalmente enlouquece o pediatra. Carrega uma bagagem imensa para um simples passeio. Geralmente é completamente apaixonada e cuidadosa com o bebê, muitas vezes dispensando a babá e curtindo muito fazer tudo para o filhote o dia todo.

Já ouviu falar na mãe desnecessária? Li, certa vez, que “a boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo”. Em seu texto, Márcia Neder explicava a necessidade de lutarmos contra a supermãe que existe dentro de nós, de reprimir o impulso natural materno de querer proteger os filhos de todos os erros, tristezas e perigos, afinal, se fizemos o nosso trabalho direito, temos que nos tornar desnecessárias, não deixando que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, os faça dependentes e não seres autônomos e confiantes, aptos a seguir seu caminho, fazer suas escolhas e arcar com as respectivas consequências, superar suas frustrações e cometer os próprios erros.

Cortamos e refazemos o cordão umbilical a cada fase da vida. Temos perdas e ganhos. Ao longo da vida, o amor vai se transformando, como um processo de libertação permanente. E então os filhos se tornam adultos, instituem a própria família e renovam o ciclo. O que eles precisam é ter certeza de que sempre estaremos lá, firmes, em qualquer situação, com os braços abertos para acolhê-los e confortá-los em todas as horas. Aprender a ser uma mãe desnecessária é um desafio e a nossa missão.

Infelizmente um imenso número de mães não consegue ser suficientemente boa (Winnicott) e não sabem que ausências maternas podem ser tão dolorosas a ponto de deixarem sequelas irreversíveis. Para elas, tenho um recado: cuidem, amem, acolham seus filhos antes que alguém o faça e você os perca definitivamente. Sejam presentes na vida de seus filhos. Charles Chaplin já dizia: não há nada mais contagioso que o exemplo. Seja exemplo dos comportamentos e ações que deseja desenvolver em seus filhos. Seja espelho. Seja autoridade. Crianças educadas com senso de hierarquia são mais seguras. Educar filhos com excesso de liberdade e sem autoridade é uma atitude destruidora de filhos emocionalmente equilibrados.

Todas nós cometeremos alguma(s) falha(s) na dura jornada da maternidade (quem disse que é fácil?). E são muitos os momentos em que tudo o que queríamos era que nossos filhos viessem com um botão de liga/desliga. Mas africanas, italianas, chinesas, francesas, inglesas, americanas… e brasileiras, acredito piamente que todas as mães, cada uma a seu modo, desejam sempre ver seus filhos saudáveis e felizes. Quanto a isso, não há controvérsia: mãe é tudo igual. No entanto, nossos endereços, o lugar onde nascemos ou fomos criadas, determinam uma ótica muito subjetiva sobre a maternidade. Trocando em miúdos, o endereço faz, sim, muita diferença. Um último recado: aprenda a ser uma mãe desnecessária. Como diz Cláudia McLure, dê a quem você ama: asas para voar. Raízes para voltar. Motivos para ficar.

A tirania infantil e a educação permissiva: uma reflexão

Ela faz de tudo para ser o centro das atenções, é impulsiva e passional. Tenta mandar nos pais, grita com eles e pode agredi-los fisicamente quando é contrariada. Quer ter sempre a última palavra e faz birra até conseguir o que quer… Essa criança provavelmente está deixando seus pais de cabelo em pé. Mas isso é “normal”? Depende.

A criança nasce sem nenhum mecanismo interno para lidar com frustrações, e sempre que as coisas não saem do jeito que quer e na hora que quer, ela irrita-se, chora e grita. Além disso, como ainda não possui noções de valores, propriedades, espaços e direitos alheios, quer tudo o que está à sua volta, acha que tudo lhe pertence e existe só para si. É um comportamento egoísta e tirano, que ocorre desde o nascimento, mas que deve ser progressivamente dissipado pelo processo de educação desenvolvido pelos pais.

Acontece que os pais não são perfeitos e é comum nos depararmos com aqueles que encontram dificuldades na dinâmica educacional, quando devem ajudar seus filhos no processo de compreenção e amadurecimento emocional. É necessário entender que a criança se enxerga baseado na maneira como é tratada pelos adultos responsáveis por ela. A maneira como ela vai interagir com o mundo na fase adulta será determinada pelas experiencias sociais da infância e o discernimento, a consciência de seu valor pessoal, é constituído em primeiro lugar na interação com a família nuclear e, depois, na interação com os outros. Suas percepções de ética, respeito, liberdade e compaixão serão delimitadas pelos adultos responsáveis por sua educação. Independentemente de a personalidade influenciar no comportamento da criança, é o ambiente familiar que mais vai influenciá-la na sua formação e na construção da sua identidade, que ocorre durante a infância a adolescência.

A criança aceita como apropriado o repertório de ações e reações oferecido pelos adultos responsáveis por ela. Assim, se são tratadas com agressividade e intolerância, crescerão achando que merecem ser tratadas dessa forma e reproduzirão tal comportamento. Se forem negligenciadas, levarão para a vida adulta a dura sensação de que suas necessidades não têm importância. Muita crítica, exigência e autoritarismo podem fazer com que a criança se sinta inadequada, incapaz e indigna de confiança. Se ela sente que não é ouvida, pode crescer insegura e dependente. Por isso é necessario que os pais estejam muito atentos aos seus atos e atitudes.  Não dar limites ou ser rígidos ao extremo, fazer tudo pelo filho, como pegar algo que caiu da sua mão, juntar seus brinquedos, ou qualquer outra coisa que poderia fazer sozinho, brigar entre si ou desautorizar o cônjuge diante do filho, não dar regras claras e consistentes, ora permitindo, ora proibindo que algo seja feito, deixando a criança confusa, são algumas das atitudes que podem contribuir para a permanência do comportamento tirano em seu filho. A permissividade é venenosa.

Substituir uma autoridade amorosa por uma permissividade vazia, convertendo a presença física e real por recursos materiais é apoiar a formação de um indivíduo egoista e tirano, que não vacilaria em passar por cima de outras pessos para conseguir o que quer.

Adultos que não desgrudam do celular, do computador ou da televisão, por exemplo, fazem uma presença física que caracteriza o pseudo-cuidado, causando na criança uma confusão a respeito de seu papel e do lugar que ela ocupa naquela relação, fazendo com que ela se sinta inadequada, sem impotância. A superproteção também é um mal. Pais que não querem ver seu filho triste ou frustrado, que sentem culpa por não poderem dar mais tempo a ele, que não desejam ter de presenciar uma birra e lidar com a agressividade do filho, que têm medo de perder o seu amor e não querem que seu filho viva sob o mesmo regime autoritário que viveram quando eram crianças, tendem a superproteger o filho. Eesse comportamneto dos pais desprotege e não garante um desenvolvimento emocional saudável para a criança. Traz aos superprotegidos a crença de que são incapazes e por isso os adultos resolvem tudo por elas e fazem tudo o que elas querem. Crescem dependentes da aprovação alheia, inseguros, desconfiados de suas próprias capacidades e habilidades e se tornam adultos que acreditam que o mundo estará sempre pronto a atender seus desejos e compreender suas demandas.

Independentemente do que a levou a continuar com seu comportamento tirano, seja a superproteção ou educação muito rígida, a criança tirana crescerá com dificuldades para lidar com a frustração, poderá tornar-se um Bully (aquele que pratica bullying, violência física e psicológica de forma gratuita), ter dificuldade em se relacionar sadiamente com outras pessoas, se tornar um profissional insubordinado e/ou autoritário, tornar-se intolerante, teimoso, narcisista e agressivo e poderá chegar ao extremo de cometer delitos ou fraudes para conseguir o que quer.

Então o que fazer? Não há um manual, mas é certo que uma diretriz pode cunduzir a um desenvolvimento emocional saudável: os pais não devem ter medo tampouco pena de dizer “não”, devem estabelecer regras claras e necessárias, mas sem exageros e não ceder às suas birras ou chantagem emocional.

É necessário ter pulso firme ao dar-lhe uma ordem, pois o filho precisa reconhecer a sua autoridade. A criança precisa de tarefas e responsabilidades como juntar os próprios brinquedos, colocar suas roupas sujas no lugar certo, juntar aquilo que espalhou, cuidar dos seus pertences, arrumar o próprio quarto, servir outras pessoas. É preciso ensinar o filho sobre a relação dinheiro/trabalho; pode-se dar pequenos trabalhos (que não sejam tarefas rotineiras, pois ele precisa aprender a ajudar sem esperar recompensa) e pagar por isso. Ele precisa compreender o quanto os pais se sacrificam para ganhar dinheiro.

Dedicar tempo ao filho, dando a ele um espaço na sua vida, ouvindo-o, mantendo o diálogo, ensinando-o a respeitar as outras pessoas, sendo exemplo de equilíbrio, moderação e amor também é muito importante. É imperativo dar uma punição adequada, sempre que necessário e, após puni-lo por um erro, demonstrar seu amor, fazendo com que ele veja os pais como pessoas que o amam e querem o seu bem. Quando assumem a responsabilidade de educar uma criança, os pais precisam ter em mente que sua postura contribuirá fortemente para o tipo de indivíduo que ela será no futuro e entender que são exemplo, que a criança não fará o que se diz, mas copiará o que se faz. No fundo, as crianças precisam é de alguém que as acolha, ame, escute, dê limites, as incentive e valorize, para que sigam seguras a cada batida que derem suas asinhas ávidas por espaço e descobertas.

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